data-filename="retriever" style="width: 100%;">Voltamos aos tempos medievais quando populações eram dizimadas por doenças sem controle. Os avanços da ciência, em especial na área sanitária aumentaram a expectativa de vida e reduziram a mortalidade infantil. Apesar de todo este progresso, o homem se vê impotente diante de seres minúsculos. Em meio às contínuas alterações ambientais, os seres, independente do seu tamanho e complexidade travam uma luta colossal para se adaptarem.
É contraditório pensar que as mudanças causadas pelo homem retornam para ele próprio, atingindo-o de forma fatal. É o feitiço que se volta ao feiticeiro. É a resposta da famosa lei do retorno - aqui se faz, aqui se paga. A explicação também pode evocar uma das leis de Newton - a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, porém de sentido oposto, no mínimo (acréscimo meu, para o qual peço licença aos físicos). A situação também pode ser explicada à luz da química. Lavoisier dizia que nada se perde, tudo se transforma. Em síntese, todas as nossas ações geram consequências mais ou menos graves, em decorrência da intensidade das mesmas. Medi-las, ponderá-las faz parte dos cuidados preventivos, porém, prevenção parece não ser humano. Costumamos chorar depois do leite derramado.
A tragédia hoje vivida, sem qualificá-la de apocalíptica, foi alertada há anos por pesquisadores aos governos e à sociedade em decorrência das mudanças climáticas, a partir da Revolução Industrial. Alertas para evitar uma catástrofe de dimensões planetárias foram desprezadas, enquanto os gases de efeito estufa e as substâncias químicas, muitas delas tóxicas e persistentes, aumentavam no ambiente. A indiferença e a incredulidade contribuíram para fortalecer um modelo econômico dominado por poucos, no qual inexiste espaço para novos formatos de desenvolvimento e combustíveis mais limpos, assim como para sistemas de produção menos predatórios e menos concentradores.
A Terra, como previu Raul Seixas, se ainda não parou, está parando. Somos reféns de um vírus mutante para o qual não há vacina, tampouco medicamentos. Estamos confinados, aprisionados, assustados como presos em filme de ficção diante de um inimigo desconhecido e invisível. Se o coronavírus nos apavora, outro sinal da catástrofe climática, a seca, transforma nossos dias em um caos escaldante, no qual plantas se contorcem e minguam enquanto os rios agonizam sem água.
Os alimentos que vão a nossa mesa, produzidos pelo pequeno produtor, morrem na lavoura, juntamente com a esperança e a saúde de todos. O abismo agrava-se ainda mais diante de políticas públicas que acirram o medo, o ódio e a desigualdade. Em meio ao caos, como escreveu Raphael Luiz de Araújo, em artigo no jornal Nexo "é preciso uma revolta fraterna e lúcida em tempos de peste". O isolamento preventivo é essencial e independe de lei. Fique em casa! Fique em paz! Empatia e solidariedade estão ao nosso alcance. Pratiquemos!